terça-feira, 22 de junho de 2010

Resenha sobre o leitor contemplativo e o filme 'O Leitor"

Para refletir sobre o filme "O Leitor" (2008)do diretor Stephen Daldry propus o recorte de três cenas com a intenção de re-significar a leitura do capítulo 1 sobre o leitor contemplativo, mediativo da obra de Santaella (2004), pois ambos revelam a atração dos sentidos humanos pelo "universo letrado".
A leitura pode ser circunstancial  considerando-se a realidade de cada pessoa que lê ou  ouve alguma história. O filme revela que embora não haja o domínio da língua falada ou escrita, há o fascínio pelo o quê se pode descobrir a partir do domínio da leitura, muito bem retratado na cena 1 quando a mulher , Hanna Schmitz (kate Winslet), passou a conhecer outras histórias a partir de um encontro ao acaso com o adolescente Michael Berg (David Kross). A partir de então foi possível  conhecer outras histórias da forma mais diversificada possível.
A possibilidade do ser humano se libertar, emancipar através da leitura dos signos e dos objetos, conseguindo ler nas entre linhas, ou seja, entendendo não só o que está revelado, mas o sentido do que está implícito ao que se quer dizer o afasta de uma posição vulnerável dos interesses que por vezes são alheios a sua própria vontade, conforme cena 2 quando a mulher confia seu destino a outra pessoa sem lhe revelar diretamente seu desconhecimento dos signos linguísticos. É importante notar que há uma troca de conhecimentos onde a mulher tem toda uma experiência de vida não só por ser mais velha do que o rapaz, mas por estar inserida em outro contexto familiar, econômico e social.
No início do filme (cena 1) foi possível assistir o uso de uma leitura acompanhada por uma articulação vocal, uma interiorização do texto pelo adolescente que fez uso da sua voz o corpo dos escritores lidos, enriquecendo-a com sua linguagem corporal de quem interpreta uma história, contudo a mesma retrata uma pessoa sem o domínio da língua escrita.
Neste momento, fazendo um contraponto com a obra de Santaella (2004) se faz necessário recordar que foi a partir da Idade Média com a evolução tecnológica do papel impresso quando se tornou possível a leitura silenciosa, contemplativa, reflexiva que possibilitaria idas e vindas sobre a obra e a evolução do pensar de forma mais sistematizada com o que se lê e se escreve. Este tipo de leitura que pode acontecer em qualquer lugar e a qualquer hora implicando o leitor estar propício a se concentrar num outro "mundo" que o afasta do local em que se encontra fisicamente, ou seja, proporciona uma mobilidade a quem aparentemente permanece no mesmo lugar.
Quanto mais intenso for o hábito de leitura maior será o desprendimento do leitor entre as variadas obras que "tornam a ordem do discurso imediatamente mais legível, aumentando o quantitativo de textos mais fragmentados em unidades separadas, e que reencontram, na articulação visual da página, as conexões intelectuais ou discursivas do raciocínio" (Chartier apud Santaella, 2004:22).
A partir do século XIX a presença dos livros em diversificados lugares trouxe a possibilidade de aumento do número de leitores de natureza mais variada possível propiciando uma relação íntima entre o leitor e o livro, leitura do manuseio, da intimidade, de acordo com Santaella (2004) "a leitura um ato de trabalho: por trás da aparente imobilidade, há a produção silenciosa da atividade leitora [...], pois o ato de ler é um processo complexo que envolve não apenas a visão e percepção, mas inferência, julgamento, memória, reconhecimento, conhecimento, experiência e prática" (Santaella, 2004:23).
Em referência a cena 3, ler traz a recordação de outros livros, pinturas, outras artes, situações, sentimentos, desperta desejos, se revela num acúmulo de informações que avançam de acordo com o movimento contemplativo e de ruminância de cada leitor habitual. A imaginação tem a oportunidade de ir longe ou perto de acordo com a vontade do leitor que não sofre com as urgências do tempo permitindo-se retornar e re-significar o seu conhecimento.
O tipo de leitura irá variar conforme a intelectualidade e intencionalidade de cada leitor.
Referências:

Santaella, Lúcia. Navegar no ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo. São Paulo: Paulus, 2004. - (Comunicação).
SCHILINK, Bernhard. Filme: O Leitor. 5 Indicações ao Oscar 2009.Direção de Stephen Daldry.Brasil: 2008.

Vídeos:


Postado por Alice Maria Costa

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